quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

El Duende


Todas las artes son capaces de duende, pero donde encuentra más campo, como es natural, es en la música, en la danza y en la poesía hablada, ya que estas necesitan un cuerpo vivo que interprete, porque son formas que nacen y mueren de modo perpetuo y alzan sus contornos sobre un presente exacto. (García Lorca)*




Bem, e aqui estou eu me arriscando na aventura de resumir em poucas linhas todo o material de pesquisa que reuni sobre o “Duende”. Que me perdoem aqueles que considerarem esta minha aventura uma ousadia, mas eu estaria rompendo o desafio que fiz comigo mesma de publicar o conteúdo de forma concisa. Assim, só me resta encarar o desafio.

As primeiras definições que li sobre El Duende eu diria que foram bem acadêmicas. Como esta de Odette Fajardo Montaño: 

"Tudo indica que a raiz da palavra duende provém do latim domus (casa) ou domitus (domesticado), pois vem da raiz indo-germânica “demb” (casa ou em casa). A palavra “duende” faz referência a um espírito travesso que habita as casas e, na Real Academia da Língua Espanhola, aparece como encanto misterioso e inefável, o mais próximo daquilo que García Lorca definiu em sua palestra (será abordada abaixo). Assim, o duende é como se fosse uma gíria, que situa o termo “flamenco” dentro do léxico próprio da Germania, de acordo com o qual “flamenco” deriva de “flamancia”, palavra que provém de “flama” e que, para os germânicos, refere-se ao temperamento fogoso dos gitanos. O que se tem aí, na realidade, é uma palavra poética e popular que nomeia um estado de criação extrema e seu significado foi se enriquecendo de relações geográficas, históricas, etimológicas e semânticas".

Outras definições são profundas como um poema. Como a de Félix Grande, na obra García Lorca y El Flamenco:

“Essa cumplicidade busca a nossa. Finalmente, ele a encontra. (...) Todos já viram um artista de flamenco no momento expressivo e comunicativo. Lembre-se, por exemplo, de uma bailaora: há um momento em que a quietude e a vertigem se juntam no ritmo, há um momento em que enquanto o corpo  apoia nos calcanhares,  dança  como se estivesse levitando; Há um instante, finalmente, quando  dança, infinitamente presente e absolutamente real, misteriosamente começa a sair do mundo. Eles são apenas um momento, mas esse momento literalmente nos tira de nós mesmos, nos expulsa de nossa história, nos dá um impulso que nos reintegra em nossa inocência perdida, um impulso que nos leva a encontrar novamente nossa exaltação. Nesse instante - se conseguirmos emergir de nossa exaltação e usar nosso olhar - veremos que esse artista tem um rosto terrivelmente simismático: sua boca se move em um monólogo cuja língua ele nem conhece; e entre aqueles movimentos remotos de seus lábios há algo como um sorriso; semelhante, porque não é apenas um sorriso: ao mesmo tempo, é uma careta de dor. Enquanto isso, quero repetir, algo mais levita, tem uma presença maior e uma realidade maior. Nesse momento, duas coisas podem não funcionar: que sorrimos como crianças ou que choremos. Ou seja: ocorreu um contágio: essa mistura de sorriso e lágrimas é o que o mesmo artista terrivelmente tem em sua boca remota”.


  “Tener el duende” é um termo em espanhol para identificar um estado elevado de emoção, expressão e autenticidade. A palavra se refere a “duende”, uma criatura parecida com um “elfo” no folclore espanhol e latino-americano.




O duende é algo que vai além da técnica e da inspiração. Quando um artista flamenco experimenta esta misteriosa característica costuma-se usar as expressões “tener el duende” (ter o duende) ou cantar, tocar ou bailar “con duende”.

Frederico García Lorca, na palestra Juego y Teoria del Duende, realizada em Buenos Aires em 1933, expressou  toda a complexidade que envolve esta palavra. Eis alguns trechos:

..."O duende é um poder, não uma obra. É uma luta, não um pensamento. Ouvi um velho maestro do violão dizer: 'O duende não está na garganta; o duende sobe dentro de você, das solas dos pés. Ou seja: não se trata de habilidade, mas de estilo de vida verdadeiro, de sangue, da cultura mais antiga, de criação espontânea ".

...” Essa força misteriosa que todo mundo sente e que nenhum filósofo explicou" é, em resumo, o espírito da terra, o mesmo duende que chamuscou o coração de Nietzche enquanto ele procurava sua forma externa na ponte Rialto e na música de Bizet, sem encontrá-la , e sem ver que o  duende que  ele perseguira, saltou dos mistérios gregos para as bailaoras de Cádiz e o grito dionisíaco sem cabeça da Siguiriya de Silverio ”. 

Portanto, não quero que ninguém confunda o  duende  com o demônio teológico da dúvida, a quem Lutero, com sentimento báquico, jogou um pote de tinta em Eisenach, nem o diabo católico, destrutivo e de baixa inteligência, que se disfarçou. como uma cadela para entrar em conventos, nem como o macaco falante carregado por Malgesi, de Cervantes, em sua comédia na floresta andaluza.
Não. O  duende que  eu quero dizer, secreto e estremecedor, é descendente daquele demônio alegre, todo mármore e sal, de Sócrates, a quem ele arranhou indignadamente no dia em que ele bebeu a cicuta, e aquele outro demônio melancólico de Descartes, diminuto como uma amêndoa verde que, cansada de linhas e círculos, fugia pelos canais para ouvir o canto de marinheiros bêbados.

Para todo homem, todo artista chamado Nietzsche ou Cézanne, cada passo que  sobe na torre de sua perfeição está à custa da luta que ele trava com seu  duende , não com um anjo, como costuma ser dito, nem com sua musa. Essa é uma distinção precisa e fundamental na raiz de seu trabalho.
O anjo guia e concede, como São Rafael; defende e poupa, como São Miguel; proclama e adverte, como São Gabriel.
O anjo deslumbra, mas voa sobre a cabeça de um homem, bem no alto, derramando sua graça, e o homem realiza seu trabalho, seu encanto ou sua dança sem esforço. O anjo no caminho de Damasco e o que entrou pelas rachaduras na pequena sacada de Assis, ou o que seguiu os passos de Heinrich Suso, cria ordem e não há como se opor à sua luz, pois eles batem suas asas de aço em uma atmosfera de predestinação.

A musa dita e ocasionalmente solicita. Ela pode fazer relativamente pouco já que está distante e tão cansada (eu a vi duas vezes) que você pensaria que o coração dela era meio mármore. Os poetas musas ouvem vozes e não sabem de onde são, mas são da musa que os inspira e às vezes a faz comê-los, como no caso de Apollinaire, um grande poeta destruído pela aterrorizante musa, a seguir. a quem o divino angelical Rousseau o pintou.

“...Anjo e Musa vêm de fora de nós: o anjo traz luz, a Musa traz forma (Hesíodo aprendeu com ela) ... Enquanto o  duende  deve ser despertado das mais distantes habitações do sangue”.
Rejeite o anjo, dê um pontapé na musa e esqueça nosso medo do perfume das violetas que a poesia do século XVIII respira, e do grande telescópio em cujas lentes a musa, que ficou doente por limitação, dorme.

A verdadeira luta é com o  duende”.

...” O  duende  trabalha no corpo do dançarino como vento na areia. Transforma uma garota, por poder mágico, em um paralítico lunar, ou cobre as bochechas de um velho quebrado, implorando esmolas nas lojas de vinhos, com rubor adolescente: dá ao cabelo de uma mulher o odor de um porto marítimo da meia-noite: e a cada instante trabalha os braços com gestos que são as mães das danças de todas as idades. Mas é impossível que se repita, e é importante ressaltar isso. O  duende  nunca se repete, assim como as ondas do mar fazem em uma tempestade”...

O espírito da terra

De acordo com Christopher Maurer, ("In Search of Duende"), pelo menos quatro elementos podem ser isolados na visão de Lorca sobre duende:

irracionalidade, falta de chão (terra), 

maior conscientização da morte e uma pitada do diabólico


O duende é um espírito da terra que ajuda o artista a ver as limitações da inteligência; quem coloca o artista frente a frente com a morte e quem os ajuda a criar e comunicar arte memorável e arrepiante. O duende é visto, na palestra de Lorca, como uma alternativa ao estilo, ao mero virtuosismo, à graça e ao encanto dados por Deus ("anjo") e às normas clássicas e artísticas ditadas pela musa. 

Não que o artista simplesmente se renda ao duende; eles têm que batalhar com habilidade "na beira do abismo", em "combate corpo a corpo". Em um grau superior ao da musa ou do anjo, o duende incita não apenas o artista, mas também a platéia, a criar condições em que a arte possa ser entendida espontaneamente com pouco ou nenhum esforço consciente. É, nas palavras de Lorca, "uma espécie de saca-rolhas que pode levar a arte à sensibilidade do público ... a coisa mais querida que a vida pode oferecer ao intelectual". 

* " Todas as artes são capazes de duende , mas onde encontra maior alcance, naturalmente, é na música, na dança e na poesia falada, pois essas artes exigem que um corpo vivo as interprete, sendo formas que nascem, morrem de maneira perpétua e abrem seus contornos contra um presente exato ". (García Lorca)

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

As Origens do Flamenco

"Eu não sou desta terra, nem conheço ninguém..."

   
Como nesta arte nada é simples, determinar a definição da origem exata do termo “ flamenco " se torna quase um desafio. Existem várias teorias sobre a gênese dessa palavra, uma das mais difundidas é a defendida pelo historiador andaluz  Blas Infante Pérez de Vargas em seu livro Orígenes de lo Flamenco y Secreto del Cante Jondo, escrito em 1933. Segundo o historiador, a palavra "flamenco" deriva dos termos hispano-árabes "Felah Mengu", que juntos significam " camponês expulso ou camponês fugitivo ".



Imagem da viagem de Blas Infante a Agmat, Marrocos (1924)
Para Blas Infante, a origem histórica do flamenco está na conquista castelhana, que força os mouros a aproveitar a hospitalidade cigana:

“Bandos errantes e perseguidos vagueiam de um lugar para outro e constituem comunidades comandadas por líderes e abertas a todos os peregrinos desesperados, lançados da sociedade para o infortúnio e o crime. Basta cumprir um rito de iniciação para entrar entre eles. Eles são os ciganos (gitanos). 
    É assim que os andaluzes, "os últimos descendentes de uma das mais belas culturas do mundo", entram em bandos nas comunidades gitanas - em árabe, " camponês expulso ou camponês fugitivo " significa felah mengu - e ali começa a elaboração do flamenco clandestino, um nome que não aparece publicamente até o século XIX, quando a perseguição cessou”.
   Para chegar a essa teoria original e controversa, Blas Infante dedicou boa parte de seu livro a desmontar as várias teses que queriam explicar a origem do flamenco por meio da análise etimológica dessa palavra.
O berço do flamenco
    O Flamenco nasceu na Andaluzia, Sul da Espanha, em locais como Sevilha, Jerez de La Frontera e Cádiz. Entre os vários povos que contribuíram para a formação da cultura e arte flamenca destacam-se:
·          O POVO ANDALUZ - os íberos que se localizavam na parte Sul da Espanha, também conhecidos como "El Pueblo Tartésico", que se estabeleceram no vale "Del Guadalquivir" por tanto tempo ou mais que os descendentes das dinastias egípcias às margens do Nilo. Era um povo muito ligado à espiritualidade, magias e fantasias.
·          OS ÁRABES - dois povos invadiram a Espanha por volta do século VII. Ligados pela religião Maometana, um desses povos era procedente da Ásia, região de Damasco e o outro era formado pelos Berberes ou Mouros, provenientes do norte da África. Esses povos fundiram seus costumes e seus elementos culturais, música e dança principalmente, cuja descendência temperamental revela a união sanguínea Andaluzo-Moura. Como influência direta podemos citar o Cante Flamenco, cujas características assemelham-se muito às orações maometanas.
·         OS GITANOS - a palavra gitano (cigano), provém do espanhol antigo “egiptano”, ou seja, egípcio. As primeiras imigrações de que se têm notícia ocorreram entre os anos de 1445 e 1447, época do reinado de Aragón Alfonso V. Neste período, uma importante tribo gitana entrou na Espanha por Barcelona, espalhando-se por toda península ibérica. 
Em outubro de 1996, o Parlamento da Andaluzia declarou o dia 22 de novembro como o Dia dos Ciganos da Andaluzia para celebrar a singularidade desse grupo étnico que selou seu vínculo com a Andaluzia geração após geração

    Os ciganos têm um importante papel no desenvolvimento do flamenco. Com a intenção de abandonarem a Índia (séc. XIV) após uma série de conflitos bélicos e invasões de conquistadores estrangeiros ocorridas em vários territórios, os ciganos foram para o Egito onde permaneceram até sua expulsão. Conscientes de que deveriam se dividir em grupos para assim conquistarem a Europa, uma parte desses povos se estabeleceu na Espanha por volta de 1425, trabalhando como pastores e artesãos. Os ciganos se estabeleceram em diversas regiões, entrosando-se muito bem com a população nativa. Mas é na Andaluzia que isto se dá mais intensamente; daí as origens do cante aparecerem sempre intrinsecamente relacionadas com as localidades andaluzas onde havia importantes gitanerias (núcleos urbanos com forte presença cigana). Durante essa época, os ciganos conheceram um período de paz que lhes permitiu certa integração com o folclore andaluz.
   Decretada a perseguição às tribos nômades pela Coroa de Castella em 1499, e com a expulsão dos não cristãos e os de raça considerada impura como os judeus, ciganos e árabes por meio de medidas severas adotadas pela Santa Inquisição, os grupos foram obrigados a se estabelecer nas montanhas e outros locais desabitados para sobreviverem. Com o convívio e mistura dos diferentes costumes e tradições dessa gente perseguida, foi surgindo uma nova forma de expressão cultural. Nascia a música flamenca e a arte do flamenco. O cante é marcado pela melancolia, pelo fatalismo e pelo sentimento trágico da vida. Nascia aí o cante jondo. Para os ciganos a música é parte integrante do dia a dia e essencial nas datas festivas. Tudo o que necessitam para iniciá-la é uma voz e acompanhamento rítmico, como palmas ou golpes dos pés no solo.
   A Espanha foi uma das primeiras nações a adotar disposições coercitivas contra os povos ciganos, sendo que a primeira disposição legal foi aquela no ano de 1499. Em 1528, novas disposições foram ditadas contra eles, referindo-se ao estilo de vida errante que levavam porque não tinham ofício para o próprio sustento, viviam de esmolas e da venda de objetos de metal, "enganavam" as pessoas com o uso da magia, além de praticarem contrabando e furto. Como condenação à vadiagem eram açoitados, escravizados e presos.
   Essa perseguição continuou até 1783, quando Carlos III lhes concedeu os mesmos privilégios dos demais habitantes. Há que se ressaltar que quando os ciganos se estabeleceram na Andaluzia passaram a exercer ofícios como ferreiros e comerciantes de roupas e utensílios.
   De acordo com o flamencólogo Faustino Nuñez, “o fato de se chamar de gitanos a todo um conjunto de povos/raças e culturas a partir do século XVI, sobretudo na Andaluzia, explica o porquê dos gitanos andaluzes serem os únicos a cantar flamenco e não o resto. Os ditos gitanos da Andaluzia, especialmente os de Cádiz e Sevilha, formarão um caldo cultural nunca visto até então, daí sua música ser das mais mestiças de todo o planeta. Isso nos leva a crer fortemente na hipótese mourisca de Blas Infante, ou seja, que os gitanos não eram só gitanos, pois o termo abarcava todos aqueles seres marginalizados e perseguidos pelos reis católicos.
   Outro exemplo mais prático e testemunho muito simples da provável mistura entre árabes fugidos e gitanos são as letras de flamenco que falam constantemente "de La moreria", e de "reinas moras", e de vir de um lugar denominado moro: "yo vengo del moro, del moro, del moro” .
   O fato é que o Flamenco é essa mistura de raças e culturas. Nas suas influências também se encontram o povo judeu e o indiano.
Réplica do escudo de Andalucía, desenhado por Blas Infante, que se encontra 

na fachada de sua Casa em Coria del Río


Fontes de Pesquisa:
Orígenes de lo Flamenco y Secreto del Cante Jondo, Blas Infante Pérez de Vargas;História do Flamenco - 2005, APÓSTILA DIDÁTICA CUADRA FLAMENCA (feita com as seguintes referências:: FLAMENCO . Biblioteca multimedia de la cultura. CD ROM. 1996 ; MEDEROS, Alicia EL FLAMENCO. ACENTO EDITORIAL 1996. España; GRANDE, Felix -MEMORIA DEL FLAMENCO. I. RAICES Y PREHISTORIA DEL CANTE. selecciones Austral ESPASA- CALPE. S.A. MADRID 1979), Vera Alejandra Biglione; Cafés de cante 1864 - 1908. 2011, Faustino Nuñes

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Mini-Dicionário Flamenco e uma explicação necessária


Café Cantante, em Sevilha

Costumo dizer que quando ingressei no universo flamenco entrei com o corpo e a alma, mas também com a mente. Desde o início queria sempre mais informações sobre a história desta arte. Como surgiu? Como se desenvolveu? Como rompeu todas as fronteiras e se tornou o que é hoje: Patrimônio Imaterial da Humanidade?

Muitas pessoas me ajudaram a reunir os materiais para estudo e pesquisa aos quais tive acesso (agradeço a todos!). Li muito e estudei as várias informações sempre como uma realização pessoal - uma espécie de hobby - nunca usei esse conhecimento de outra forma, até porque nunca pratiquei Flamenco profissionalmente.

Após várias mudanças de residências, quando em cada uma delas acabava perdendo muito deste material que reuni na forma de xerox, apostilas, anotações pessoais e recortes de jornais e revistas, resolvi que deveria compatilhar de alguma forma este conteúdo que ainda me resta.

E me peguei pensando: como farei isso? Assim nasceu este Blog. 
Não tenho a intenção de fazer aqui uma obra épica. Pretendo publicar o material de forma resumida, conforme vou organizando toda "a bagunça" que finalmente juntei.

E para começar, algo que eu descobri ser fundamental assim que ingressei no complexo mundo flamenco: um pequeno "dicionário para compreender o idioma flamenquês".

Aí vai ele, logo na estreia:


MINI DICIONÁRIO FLAMENCO

ABANICO
Leque. Algumas fontes afirmam que se refere ao leque de tamanho pequeno ou médio de até 23 cm.


A COMPÁS
Diz-se da interpretação musical que mantém o ritmo dentro da métrica correspondente, sem acelerar e todos juntos. Tocar, cantar ou dançar a compás é a única maneira possível de executar os estilos rítmicos, embora às vezes, em razão das características especiais do flamenco, isso não aconteça.

ACENTO
Nota mais forte do compás. Com isso, é possível inclusive diferenciar os palos que têm exatamente os mesmos tempos, por exemplo, soleá e alegrias - ambos ritmos de 12 tempos - mas com acentos diferentes.

AFICIONADO
Pessoa entusiasta da arte flamenca. Também se chama assim o intérprete de qualquer uma das facetas do flamenco que não a exerce como profissional.


AROS E PENDIENTES
Argolas e brincos para montar o figurino de baile flamenco.

ARREMATE
Fechamento de um baile, de um sapateado ou de uma movimentação de corpo.

ARREMATE COM CIERRE
Encerramento de uma composição. Pode ser executado como “cierre final”.

ARREMATE CONTÍNUO
Quando há somente a mudança de sequência na estrutura do baile.

BAILAOR(A)
Bailarino(a) de flamenco.

BAILE
Baile flamenco é a dança flamenca. O baile tradicional flamenco é acompanhado de cante e guitarra, com um ou mais bailaores executando os movimentos segundo os conceitos de cada estilo dentro do flamenco.


BAILE DE PALILLOS
Foram nomeadas assim as danças nacionais e pré-flamencas, que eram acompanhadas, entre outros instrumentos, de guitarra (violão) e castanholas. Os bailes de palillos costumavam ser feitos em pares, com os dançarinos frequentemente usando castanholas. Eles usavam mais espaço cênico, incluíam todos os tipos de saltos, tranceados e batimáns, com a leveza do corpo. Entre outros, estavam incluídos nessa denominação o fandango, o bolero, as seguidillas mollares, manchegas e sevillanas. 

BATA DE COLA
Traje de mulher andaluza em determinadas festas ou figurino usado por bailaoras, dependendo do baile. Caracteriza-se por uma saia ou vestido com uma espécie de cauda longa, geralmente com babados.

BOLERAS
Um tipo de seguidillas executadas desde o final do século XVIII até o século XIX. A partir de então, dissolveram seus elementos orientadores em boa parte das danças folclóricas da Andaluzia, incluindo os flamencos. As Sevillanas se desenvolveram como um exemplo de seguidillas, evoluindo em sua forma até aparecer em diversas variantes, uma delas precisamente as sevillanas boleras, que recria o estilo original da seguidilla boleras com o acento próprio de Madri. No teatro andaluz, elas aparecem exibidas durante a primeira metade do século XIX, fazendo parte dos espetáculos que combinavam comédias, com tonadillas e diferentes bailes. São geralmente dançadas em pares, em até oito casais.

BRACEOS
Ação do baile espanhol e, em particular, do flamenco, que se baseia no movimento ondulatório dos braços em diferentes posições. É uma das bases da aprendizagem do baile flamenco.

CAFÉ CANTANTE
Local onde havia recitais de música e dança flamenca, no período entre os anos 1847 e 1920. Tornou-se uma época importante para o flamenco pela definição de alguns estilos e pela difusão além dos limites habituais da Andaluzia. Em geral, era um salão decorado com cartazes de touradas e espelhos, com um tablado de madeira onde acontecia a apresentação flamenca. Foram os cafés cantantes que proporcionaram à arte flamenca  um desenvolvimento notável. Neles os bailes eram a coluna vertebral do espetáculo. O flamenco se coloca como elemento fundamental na programação dos cafés - que no início era muito variada - e o baile dá passos gigantes, assim como a guitarra e o cante. Sevilha foi um lugar marcante para os cafés cantantes.

CANTAOR(A)
Cantor(a) de cante flamenco.

CANTAR ALANTE
É cantar acompanhado do violão, para escutar, sem baile. Em contraste com o Cantar Atras, corresponde à música acompanhada pela guitarra flamenca  "para escutar", sem baile. Refere-se à situação do cantor no palco ou tablado, sem acompanhar o baile. O cantaor ocupa a parte da frente do palco, sozinho ou acompanhado do guitarrista. O cante alante surgiu depois de um tempo em que os cantaores de flamenco recebiam bastante aceitação do público que, além de assistir aos shows de dança, queria ouvir o cantaor apenas executando o repertório de flamenco.

CANTAR ATRÁS
É cantar para acompanhar o baile. Também conhecido por Cante de Atrás, significa  cantar para bailar, ao contrário do Cantar Alante (cante para escutar, sem baile). O Cante Atrás se refere à disposição dos intérpretes no palco ou  tablado, atrás, junto às guitarras para deixar espaço suficiente para a realização do baile.

CANTE JONDO
O “cante jondo” é o cante andaluz de profundo sentimento. “Cante jondo” ou “cante hondo” são equivalentes já que o termo “jondo” é a forma andaluza da palavra “hondo”, com sua característica aspiração da letra H.

CANTE
Usado para abreviar a expressão “cante flamenco”, denomina o conjunto de composições musicais em diferentes estilos, que surgiram entre o último terço do século XVIII e a primeira metade do século XIX pela justaposição dos modos musicais e folclóricos existentes na Andaluzia.

CANTES DE IDA Y VUELTA
Expressão que define o conjunto de estilos aflamencados de clara origem hispanoamericana. Ex. Guajiras e Colombianas.

CANTES DE LEVANTE
Estilos flamencos das províncias orientais Almería y Murcia.

CANTE FESTERO
São os cantes mais alegres e festivos, como as Rumbas e Alegrías, por exemplo.

CAI
Abreviação da cidade de Cádiz, utilizada pelos locais

CAJÓN
Caixa acústica de madeira usada por percussionistas

CIERRE
Cadência rítmica que serve como final de um trecho de baile. O cierre é utilizado para terminar a letra do cantaor. Depois que o cantaor termina o segundo tercio da letra (já cantou todos os versos da estrofe), o bailaor termina também seus marcajes e paseíllos com este elemento similar à llamada (chamada), que é o cierre.  Os cierres podem durar entre ½ compás a 1 compás.

COMPÁS, A
Cante ou baile que é interpretado seguindo fielmente o ritmo ou cadência do estilo correspondente, marcado habitualmente pela guitarra flamenca.

COMPÁS, EL
É a divisão regular do tempo entre diferentes acentos e pulsos. Cada compás se divide em períodos de igual duração chamados tempos. Exemplo: 1 compás de tangos tem 4 tempos.

CONTRATIEMPO
É o acento que fica na parte fraca do compás, entre dois tempos fortes.

COPLA
É cada poema do cante, geralmente de três ou quatro versos, e que serve de texto para as canções populares e para o flamenco.

CORTES DE LETRA
Os cortes de letra podem existir ou não, mas caso estejam presentes, servem para fechar ou ‘responder’ ao primeiro tercio do cante. Assim, como a llamada, os cortes são golpes que indicam uma interrupção, mas deve-se notar que são distintos.

CUADRO FLAMENCO
É o conjunto de intérpretes de baile, cante e toque flamencos.

DESPLANTE
Série de golpes fortes dos pés executados com precisão e definição. O desplante acaba com a serenidade de um punteado ou com o virtuosismo de um zapateo ou escovilla. Pode ser considerado um arremate final.

DUENDE
O duende é algo que está além da técnica e da inspiração. Quando um artista flamenco experimenta esta misteriosa característica, costuma-se usar as expressões “tener el duende” (ter o duende) ou cantar, tocar ou bailar “con duende”. “Tener el duende” é um termo em espanhol para identificar um estado elevado de emoção, expressão e autenticidade. O termo deriva de “duende”, uma criatura parecida com um “elfo” no folclore espanhol e latino-americano. Frederico García Lorca, em uma palestra realizada em Buenos Aires, em 1933, disse o seguinte: "O duende é um poder, não uma obra. É uma luta, não um pensamento. Ouvi um velho maestro do violão dizer: 'O duende não está na garganta; o duende sobe dentro de você, das solas dos pés. Ou seja: não se trata de habilidade, mas de estilo de vida verdadeiro, de sangue, da cultura mais antiga, de criação espontânea ".

ESCOBILLA
É uma sequência rítmica dentro de um baile flamenco que o bailaor realiza com os pés, com o sentido de produzir frases musicais dentro do compás. É um momento de virtuosismo do bailaor e o acompanhamento pode ser com a guitarra a compás (mais simples, não muito usado hoje em dia), com falsetas de claro compás (sequência musical com a guitarra e outros instrumentos) ou a palo seco (acompanhamento com palmas ou percussões). Pode ser utilizada para subida de ritmo, para ir de um palo mais lento para um mais rápido. Nem todo sapateado dentro do baile é uma escobilla, mas a escobilla é sempre uma sequência de sapateado. No flamenco tradicional, não se admite o cante durante a escobilla, pois seria como ter dois protagonistas atuando ao mesmo tempo.

FALDA COM VOLANTES
Saia de babados

FALSETA
Parte da música flamenca na qual o guitarrista interpreta uma composição própria ou alheia. É uma peça composta para a guitarra, interpretada entre as diferentes letras de um cante. É o momento em que o guitarrista faz o seu ‘solo’.

JALEOS / JALEAR
Jaleos são expressões ou gritos de encorajamento e aprovação. Podemos dizer que são parte integrante do flamenco. Tanto os artistas quanto o público os usam. O objetivo é incentivar principalmente cantaores, guitarristas ou bailaores. Exemplos: Olé, Eso es, Toma que toma, Guapo ou Guapa, Olé tu arte, Así se baila, Vamonos, etc.

JUERGA FLAMENCA
Festa ou reunião de aficcionados e intérpretes em um ambiente para manifestação de cante, baile e toque de flamenco.

LATIGO/LATIGUILLO
Latigo seria uma maneira de produzir som arrastando a planta do pé no solo na ida e na volta, lembrando uma espécie de “chicotada”.

LETRA
Cada uma das estofes que se cantam no flamenco.

LLAMADA
Zapateo ou sapateado que sinaliza troca. Faz-se uma llamada antes de uma nova frase musical, para a entrada do cante, para o início de uma escovilla, para a saída de um bailarino de cena, enfim, para mudanças na estrutura do baile As llamadas, os cortes de letras, os cierres e os remates são elementos semelhantes em suas formas, são golpes que indicam uma interrupção, mas são distintos entre si.

MANTILLA
Manto usado na cabeça, geralmente de rendas.

MANTOCILLO
Mantón pequeno (formato de um quadrado).

MANTÓN
Xale grande com franjas.

MARCAJE
São os movimentos sem deslocamento que marcam o compás mais básico do baile. Em geral, são movimentos que envolvem braços, torso e mãos, enquanto os pés marcam o compás sem sair do lugar. Esses movimentos de marcação dos passos são executados pelo bailarino durante a letra da música.

MELISMA
Grupo de notas sucessivas cantadas sobre uma mesma sílaba, como adorno ou floreio da voz.

OLÉ
É um grito de entusiasmo diante de uma obra bem executada, de uma patada, um remate, algum momento no flamenco, seja cante, toque ou baile. É um dos jaleos mais conhecidos e utilizados. Tem sua origem nas touradas.

ÓPERA FLAMENCA
Espetáculo flamenco de cante, baile e guitarra que se espalhou de 1920 a 1936 por toda a Espanha, organizado por empresários profissionais e realizado geralmente nas Plazas de Toros ou em grandes teatros.

PALILLOS
Nome como são chamadas as castanholas na região da Andaluzia. No passado, os mestres artesãos de castanholas saiam pelas ruas procurando pedaços de pau (palo) para produzir os instrumentos. Daí se originou o nome palillos.

PALMAS
É um elemento que juntamente com a guitarra é fundamental para a estética sonora do flamenco. Elas acompanham o cante e dão a base rítmica para os bailaores e músicos. No flamenco se diz ‘tocar’ palmas para acompanhar o cante, e não ‘bater’ palmas. Por isso de diz que os “Palmeros” são as pessoas especializadas em "tocar" palmas.

PALMAS SORDAS
São as palmas de som mais grave e redondo.

PALMAS VIBRANTES OU VIVAS
São as palmas de som aberto e agudo, vibrantes, muito usadas para acompanhar o sapateado/escobilla.

PALMERO
É a pessoa especializada em tocar palmas flamencas.

PALO
É cada uma das variedades tradicionais do cante flamenco. Também podemos chamar de ritmos.

PALO SECO, A
Se refere aos estilos flamencos que são cantados sem acompanhamento de guitarra. Cante interpretado “a capela”. O termo também é utilizado para definir quando a escovilla ou o zapateo é feito sem acompanhamento de cajón ou palmas.

PASEO/PASEÍLLO
São movimentos da dança flamenca parecidos com os ‘marcajes’, mas que se realizam com deslocamentos. São movimentos de caminhadas feitas geralmente durante a letra da música. Andar pelo palco é tão difícil quanto bailar e um bom paseo é sinal de qualidade interpretativa. Saber fazer um bom paseo é, portanto, tão importante quanto bailar. No paseo de uma coreografia, também é possível descobrir a qualidade artística de um(a) bailaor(a).


PATADA
Diz-se da ação de realizar um breve baile, de preferência em uma fiesta flamenca: ‘darse un patada’ o ‘pegarse una pataíta’. As bulerías são o estilo mais apropriado para as pataítas e, embora breves mas intensas, são muito apreciadas pelos fãs de flamenco e não são reservadas apenas para aos bailaores, já que em todos os finais da fiesta entram todos os participantes, cantaores e tocaores, com sua pataíta correspondente. Uma das características mais marcantes das patadas é a espontaneidade e naturalidade com as quais elas são apresentadas. 

PEINETAS
Pentes para usar no cabelo, fabricados em vários tamanhos, modelos e materiais, para uso em cena na dança flamenca, mas também em eventos sociais como casamentos, bodas, formaturas, etc.

PEÑA FLAMENCA
Associação ou clube formado por aficionados da arte flamenca para a exaltação e difusão do cante, do toque e do baile flamencos. Tiveram seu auge no início dos anos 60 na região da Andaluzia, estendendo-se por toda a Espanha e por outros países. Nestes locais, o flamenco é o tema principal dos encontros e dos recitais, tanto de intérpretes consagrados como de novos talentos. Pode denominar também uma reunião de pessoas envolvidas ou somente interessadas pela arte do flamenco.

PICO
É um xale em formato triangular.

PITO
Nome que recebe o estalar de dedos para marcação de ritmo.


PLANTA
Um dos três golpes básicos do sapateado, junto com a punta e o tacón. Com a planta, se obtém um som redondo de grande força e, com ela, são executados os três golpes próprios do padrão soleá ou das alegrias (1, 2, 3 ).

PUNTA TACÓN
Um dos movimentos básicos do sapateado que, como seu nome indica, consiste em alternar os golpes com a ponta (punta) do sapato e tacón.

PUNTEADO
Consiste num movimento suave de sapateados (zapateos), executados com passos sutis e muita técnica. Às vezes se reduzem a passos simples de avanço e retrocesso dos pés, que se enlaçam, se separam e se cruzam, promovendo verdadeiros arabescos.

RASGUEADO
Técnica empregada pelos guitarristas flamencos onde as cordas do violão se roçam de baixo para cima usando todos os dedos.

REBOTE:
Salto pequeno executado antes de certos golpes dos pés no solo.

RECORTE DE LETRA
Parte intermediária entre as letras.

REDOBLE
Passo redobrado ou Zapateo breve

SALIDA
Palavra usada para iniciar um baile, uma entrada “al escenário” (adentrar no palco).

SILENCIO
Seção do baile por Alegrías com um acompanhamento de guitarra característico e sem cante.

TACÓN
Nome que se dá ao salto do sapato flamenco e também ao golpe que se dá com o salto no baile flamenco.

TACONEO
Série de golpes ritmados feitos com o salto (tacón).

TOQUE
Ação de tocar a guitarra flamenca (violão flamenco).

ZAPATEO
Sapateado. É o momento que o bailaor deve fazer música com os pés.


Fontes:
Breve Enciclopedia Del Flamenco – José María Esteban
Diccionario de la lengua española. Real Academia Española. 21a Madrid, Ed. Espasa-Calpe, S.A1997 
El flamenco y la música andalusí - Cruces, Cristina, Carena Editores

El Duende

Todas las artes son capaces de duende, pero donde encuentra más campo, como es natural, es en la música, en la danza y en la poesía hablad...